sábado, 8 de outubro de 2011

Símbolos do, e no(s) Caminho(s) ... (de Santiago)



...Deste longo registo, escrito por altura do meu segundo Caminho de Santiago - Caminho Francês - podemos extrair vários pequenos textos, que poderão ser muito úteis a qualquer peregrino a Santiago, seja ele ciclista, pedestre ou outro.

O excerto agora transcrito para este post refere-se aos Símbolos que podemos encontrar no Caminho, ou que com ele são conotados :

Símbolos do, e no(s) Caminho(s) ... (de Santiago)

Esta representativa foto da porta principal da “Simbólica” Catedral de Santiago, ajuda-nos a perceber melhor a importância dos símbolos nos Caminhos de Santiago.

Tentarei de forma breve referir-me a alguns e às suas origens e utilizações.


Assim temos :

- A Vieira.

Esta forma, muitas vezes pintada em azulejos de diversos tipos, mas quase sempre a amarelo em fundo azul, guia-nos um pouco por todos os caminhos até à Catedral.

Por curiosidade (re)lembro que há caminhos e regiões que colocam a sua “dobradiça” (união das conchas), a indicar a direcção de Compostela e situações há, que usam precisamente o lado oposto para o fazer. Temos que entrar na ideologia de cada região ou caminho e estar preparado para mudar, pelo simples facto de termos transposto a linha que delimita uma freguesia. Podem pensar que estou a exagerar, mas como exemplo refiro a passagem entre as províncias das Astúrias e a Galiza em pleno Caminho do Norte, onde tal facto me deixou confuso.

Mas toda a importância que este objecto adquiriu ao longo dos tempos, está directamente ligada à casca do molusco bivalve, que habitualmente conhecemos na forma côncava.

Usando somente metade da “capa” do marisco, os peregrinos ficavam identificados como tal e usavam-na para poder beber água pelas diversas fontes ao longo do caminho, mas principalmente em casas, albergues e estalagens que lhes abrissem a porta para um pouco de comida, repouso e conversa.





- As Setas amarelas, ou “Flechas Amarillas”.

Foram-se tornando um símbolo dos Caminhos, através da sua cor, forma e fácil visualização.

São a marca mais vista ao longo dos trilhos e estradas, muitas delas em complemento aos azulejos das vieras ou em substituição destes. Hoje em dia, mesmo sem saber o rumo que determinado caminho toma, dificilmente nos perdemos, se estivermos minimamente atentos a estes pequenos traços de tinta amarela.

Colocadas em todo o tipo de locais e superfícies, como: - Postes de electricidade, pedras, árvores, sinais de trânsito, casas, muros, semáforos, ou mesmo no próprio chão, fazem-se notar com facilidade. No entanto e apesar de muito comuns, também as perdemos de vista por estarem escondidas ou porque circulamos descontraidamente em descidas onde a velocidade é bastante mais elevada (nas bicicletas). Por força dessa distracção, e ao não vermos uma determinada seta podemos perder algum tempo e “caminhar” um bom para de metros a mais. Nestes casos, e antes da tomada de consciência de que realmente estamos fora do Caminho, eu pessoalmente aconselho que, quando nos surgem as dúvidas, e depois de terem andado um, no máximo dois quilómetros sem verem nenhuma seta ou referência, voltem para trás, para o último ponto onde há uma marca fidedigna, e daí recomeçarem o vosso caminho. Muito provavelmente, e com a atenção redobrada iram aparecer as marcas que julgávamos inexistentes, mas que afinal apenas estavam tapadas ou pouco visíveis.

Quando circulamos em cidades, em que o movimento de pessoas é notório podemos sempre perguntar a alguém conhecedor, para retirarmos as nossas dúvidas. Mas também é nas cidades que nos “perdemos” mais vezes, não só porque os movimentos das marcas são mais frequentes, mas também porque existem muito mais motivos de interesse e distracção.




- O Cajado.

Por ser um apoio, um equilíbrio, uma defesa, ou mesmo um companheiro para qualquer peregrino pedonal, tornou-se numa referência do Peregrino, e está directamente associada a este em qualquer imagem. Faz parte dos acessórios básicos de um caminhante.

É assim desde os primórdios das peregrinações a Santiago e será sempre assim daqui em diante. Também por isso, mas principalmente pela sua enorme utilidade nos dias de hoje (há quem o substitua por sticks), é considerado um símbolo dos caminhos.

Alguns cajados, ainda hoje têm uma cabaça presa no seu topo para o transporte de água ou outro qualquer líquido. Este sim, um hábito já quase extinto. Por razões óbvias, os cantis de hoje são mais práticos e conservam os líquidos à temperatura desejada durante mais tempo.

Claro que para o Peregrino em Bicicleta, o Cajado, apenas tem uma conotação simbólica.




- O Chapéu.

Por ser um acessório obrigatório para quem anda um dia inteiro ao relento, ao sabor do sol ou da chuva, do calor ou do frio, o Chapéu é um elemento indiscutível. A sua utilização já vem de longe e já tomou várias formas. Mas a que mais conotamos com a imagem do Apóstolo Peregrino, é o de abas largas, em feltro, com um dos topos retorcidos para cima.





- A Espada-Cruz ou a Cruz-Espada?

Há quem diga que a cruz de Santiago originou a espada, mas também poder-se-ia pensar o oposto. - O que é mais verosímil? - Realmente é a primeira opção.

A espada de Santiago e o seu cognome de “Mata-Mouros” advêm muito à-posteriori, dos “milagres” que o Apóstolo teria realizado em prol dos reinos católicos, nas batalhas contra os povos invasores da Península, surgindo de espada em riste com o seu cavalo branco, nas batalhas campais entre os séculos X e o XV. A lenda aliás estende-se também à época de evangelização dos povos da América latina.

Temos portanto, que da lenda de Santo guerreiro surge-lha a espada, mas na realidade essa “arma” não era mais do que uma cruz. Existem algumas figuras do Santo, como estátuas, esculturas ou pinturas em que este está montado num cavalo com uma espada na mão a combater os mouros. Tal imagem nem sempre é bem aceite por algumas facções da igreja, chegando mesmo a ser considerada anti-ecuménica e anti-histórica. Muitos defendem a imagem santificada do apóstolo, com a sua indumentária de humilde Peregrino, onde se incluem a capa comprida, as sandálias de tiras, o chapéu de abas e o alto cajado.

Polémicas à parte, e tomando por base o que até nós chegou acerca de Santiago, temos que nos dias de hoje, um dos símbolos do Apóstolo de Compostela é sem margem para dúvidas, uma cruz espadária, ou se quisermos, uma espada crucífera, quer a queiramos ver como uma cruz em forma de espada ou, no sentido inverso.





- Compostelana.

Não há Peregrino que se preze que não queira a sua Compostelana. E não há (ou não deveria haver), Peregrino que já tenha efectuado um caminho de Santiago que não a tenha. Emoldurada ou simplesmente esquecida num qualquer canto.

É ela que comprova oficialmente, e depois de vistoriada a credencial, a passagem pelos “marcos” da Peregrinação, a caminho de Santiago de Compostela (final de todas as Peregrinações jacobinas, exceptuando a Fisterrana*).

É um documento carregado de simbolismo, em formato A4, onde, através de um texto explicativo, normalmente em latim, se identifica o Peregrino e o feito que acabou de cumprir.

Há dois tipos de Compostelana. Enquanto estamos no apoio ao Peregrino à espera de receber tal documento, é-nos distribuído um pequeno questionário onde temos que invocar a razão fundamental que originou tal Peregrinação. Essa razão pode ser, com fins católicos, católicos e de lazer, ou simplesmente por lazer. São essas opções que definem o “estilo” de Compostelana a que temos direito como Peregrinos.

* - Fisterrana. O mesmo que uma Compostelana, mas entregue em Finisterra, como prova desse Caminho (Santiago de Compostela - Finisterra).




- A Credencial.

Bem essencial a qualquer peregrino, tem como função primeira o comprovar da Peregrinação propriamente dita. Ao passar por pontos de referência como “ayuntamentos”, postos de turismo, esquadras de polícia, catedrais, igrejas ou simples capelas, desde que seja possível, o Peregrino deve ”sellar” (carimbar) a sua credencial. Mas especialmente nos albergues, com principal incidência naqueles em que vai pernoitar.

Esses carimbos recolhidos nas hospedarias e albergues servem para comprovar a nível oficial, pelas entidades reguladoras de apoio ao Peregrino, em Santiago, e no albergue de Finisterra, no caso da Fisterrana, a passagem pelas diversas terras do Caminho, legitimando assim a Peregrinação. Para que uma Peregrinação seja válida a nível oficial, e como já frisei, tem que ser percorrida numa distância mínima de duzentos quilómetros, no caso das Bicicletas, mas, e isto é um factor muito importante, tem que ter pelo menos dois carimbos por jornada (dia), na credencial.

Este documento, que acaba por ser o Bilhete de identidade do Peregrino, tem várias formas e origens. Os mais usuais são os da organização Xacobea, e podem ser adquiridos nos postos oficiais de apoio ao Peregrino; em muitos dos postos de turismo; em algumas localidades de passagem dos Caminhos, mas principalmente nos albergues, e especialmente naqueles em que damos inicio à nossa Peregrinação. Normalmente têm um custo simbólico de 1 ou 2 euros.

Para quem não tenha hipótese de arranjar um, também pode fazê-lo à mão, num simples pedaço de cartolina ou papel resistente. Desde que incluam os dados essenciais: O nome do Peregrino, um número de identificação, o modo como vai efectuar a Peregrinação, o local onde a vai começar e quando. Claro está, que terá que fazer constar os carimbos das passagens efectuadas pelo trajecto, para dar direito à Compostelana.





- Santiago-Maior.

Também conhecido por Santiago de Compostela, terá nascido em Bethsaida na Galileia, desconhecendo-se o ano. Segundo o Novo testamento bíblico será filho de Zebedeu e de Salomé, irmão de São João Evangelista, seria pescador nos mares da Galileia. Conhecida é a data do seu falecimento, que terá ocorrido no ano 44 da nossa era, em Jerusalém.

Este apóstolo de Jesus Cristo, um dos doze, passou a ser venerado por toda a cristandade. Foi santificado e apelidado de Maior para facilmente se destrinçar de outros, como: - Tiago; Santiago Menor ou mesmo de Santiago o Justo.

É patrono de vários países. Com a Espanha à cabeça, também é o santo protector de inúmeras pátrias da América latina. Várias classes profissionais escolheram este santo para seu protector, entre elas temos: - Os Veterinários, os Cavaleiros (existe inclusivamente uma ordem militar com o seu nome) e os Farmacêuticos. Claro, que a razão pela qual é mais associado, é por ser patrono dos peregrinos.

A origem do seu nome, em latim Iocubus, derivou nas mais diversas formas, que chegam até aos nossos dias, dependendo da região onde o procuremos. Com o decorrer do tempo e a passagem das eras e das lendas a sua denominação foi variando, chegando até aos dias de hoje em leituras tão distintas quanto as línguas em que é conhecido, por exemplo: - Jakob (hebraico), é a forma como é tratado na Alemanha e um pouco por toda a Europa central e do norte; - James, é como lhe chamam nas ilhas britânicas; Em França, o já famoso Jaques ou San Jean; Outros, inclusive algumas regiões de Portugal apelidam-no de Jacó. Na própria Espanha, a denominação do Santo não é uniformizada, os Catalães por exemplo usam o Jácome (definição de Jaime) como principal forma de o intitular. Já pelo resto da Península, o actual Santiago derivou de Iago ou mesmo de Iaco por supressão do Ti.

O seu maior e mais emblemático santuário, é: - como todos sabemos - A Catedral de Santiago de Compostela, o que torna a cidade como o terceiro maior marco da cristandade actual, logo atrás de Jerusalém e de Roma.

A data a que se celebra nas comunidades católicas é o 25 de Julho.


GR

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